quinta-feira, 31 de agosto de 2017

O Desaparecido "Trapo Azul"...


A vida está cheia de acontecimentos estranhos, que normalmente escapam ao nosso entendimento. 

Um ano antes da comemoração do Centenário do Romeu Correia, o proprietário do restaurante, que tinha o nome de um dos seus livros, o "Trapo Azul", que ficava na rua Capitão Leitão, mesmo em frente do cinema da Academia Almadense, faleceu de repente, e esta simpática casa de pasto fechou...

Entretanto abriu uma nova casa, com um novo nome, e que também serve comidas.

Na verdade teria sido bonito, neste ano do centenário do Romeu, o "Trapo Azul" estar aberto e ser espaço de tertúlias sobre o grande escritor de Almada...

Havia um pequeno quadro pendurado no restaurante que identificava o "Trapo Azul", escrito por Orlando Laranjeiro, que transcrevemos:

"Trapo Azul"
  
Memória viva da história da nossa Terra

Retalhos que marcaram a vida do povo de Almada,
escritos e contados de forma insuperável, pelo
grande escritor Almadense: ROMEU CORREIA

                                            Orlando Laranjeiro

(Fotografia de Luís Eme)

sábado, 26 de agosto de 2017

Alexandre Castanheira, Amigo e Biógrafo de Romeu Correia


Alexandre Castanheira faz hoje 90 anos (embora só tenha sido registado em 28 de Fevereiro de 1928) e faz todo o sentido escrever sobre ele no blogue sobre a vida e obra de Romeu Correia, especialmente hoje.

Primeiro que tudo Alexandre e Romeu foram amigos, ambos estavam  ligados às bibliotecas das duas principais Colectividades Almadenses (Incrível e Academia), quando estas apoiaram a estreia literária de Romeu, com o livro de contos, "Sábado sem Sol".

Fruto dessa amizade e admiração, Alexandre acabou por escrever o livro, "Romeu Correia, Memória Viva de Almada", publicado em 1992 pela Câmara Municipal de Almada.

Esta obra acaba por complementar uma outra biografia da autoria de Alexandre M. Flores, também editada pelo Município de Almada, em 1987, "Romeu Correia, o Homem e o Escritor".

Neste livro - que aconselhamos vivamente a todos os apaixonados pela obra de Romeu - Alexandre Castanheira, além de contar a vida de Romeu, liga-o a Almada, às pessoas e aos lugares, utilizando várias transcrições dos seus livros, numa bela viagem literária. 

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

"Todos os Braços Úteis"


Estas são as palavras de J. O., sobre a fotografia de Romeu Correia, da autoria de Fernando Lemos (datada entre 1949 e 1952), que esteve em exposição no Museu Berardo, no Centro Cultural de Belém, intitulada, "Todos os Braços Úteis":


«Esta atenção aos braços e mãos de Romeu Correia poderia ter a ver com o facto de ter praticado boxe amador nos anos quarenta, chegando a campeão nacional nesta modalidade. No entanto, outras leituras podem ser feitas a partir do facto de ter sido a sua vontade e esforço de autodidacta que lhe permitiram ultrapassar uma instrução básica para tornar-se um escritor e dramaturgo, reflectindo sempre as preocupações do neo-realismo.

Este movimento, que pictoricamente muitas vezes evidenciava as mãos e os braços dos camponeses e operários como a sua força e ferramenta de sustento, tinha obviamente preocupações sociais, que Romeu Correia partilhava. Estas reflectiram-se logo no seu primeiro livro de contos, Sábado Sem Sol (1947), que a PIDE tentou apreender.


A sua generosidade e vontade de dinamização levaram-no a dedicar-se de igual modo às colectividades de Almada, cidade onde nasceu e viveu, nomeadamente na expansão das suas bibliotecas e na organização de palestras (Incrível Almadense e Academia Almadense). Hoje tem o seu nome inscrito no Fórum Municipal desta cidade e numa Escola Secundária do Concelho.»

terça-feira, 15 de agosto de 2017

O Imaginário de Romeu Correia e a Feira do 15 de Agosto...


A Feira do 15 de Agosto das Caldas da Rainha continua a fazer-se, mas há muito que não é o acontecimento de outros tempos (a magia que acompanhou a nossa infância, fugiu...). Com as devidas distâncias é aquilo que conhecemos mais próximo do imaginário teatral e ficcional do Romeu, presente a espaços em livros como a "Roberta", "Bonecos de Luz" ou "O Vagabundo das Mãos de Oiro".

Claro que o Portugal da nossa infância (anos setenta...) é muito diferente do de Romeu dos anos vinte e trinta. Nessa altura, por sermos menino de cidade nem faziamos ideia que havia "cinema ambulante", que foi uma das primeiras coisas a maravilharem o grande dramaturgo e escritor almadense...

Mas havia o circo (sempre gostámos de palhaços...), os carroceis, o "poço da morte", que na época era uma das maiores aventuras que se podiam ver e que a mãe nos ia proibindo de ver. Mas houve um ano que assistimos mesmo aqueles malabaristas que com motas especiais, conseguiam andar de pernas para o ar e conduzir de olhos vendados...

Claro que falar desta "magia" aos nossos filhos, faz com que nos olhem de lado e pensem em coisas parecidas com a "pobreza franciscana"...

(Fotografia de Luís Eme - cartaz da exposição "Um Homem Chamado Romeu Correia")

domingo, 6 de agosto de 2017

Romeu e o Laço...


Uma das imagens de marca de Romeu Correia foi o uso do laço, durante uma boa parte da sua vida.

Para muito boa gente que apenas o conhecia de vista, este era mais um dos exemplos da sua vaidade, ou seja, uma forma de se distinguir como homem de letras do comum dos cidadãos.

Recentemente, numa conversa com o seu amigo Alberto Pereira Ramos, este confidenciou-me que o uso do laço foi sobretudo uma forma de resistência do Romeu contra o uso obrigatório da gravata, fato e casaco, na sua profissão de bancário.

(Nesta fotografia Romeu aparece de braço dado com Eunice Munoz e Maria Lalande, que foram as protagonistas da sua peça de teatro, "Jangada", que visita o Ginjal e foi estreada no teatro Vilaret...)

quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Cinema de Abril na Incrível com Romeu e Almerinda


Agosto é um mês propício à leveza. É por isso que iremos durante este mês deixar aqui pequenas curiosidades, que de alguma forma demonstram quem foi de facto, o homem que ficou conhecido como Romeu Correia.

Como falámos de cinema e da Incrível na última publicação do blogue, vamos continuar nesta sala de cinema histórica, para vos contarmos um episódio que nos foi transmitido por Francisco Gonçalves, um dos grandes actores amadores de Almada e também um grande Incrível.

Logo após o 25 de Abril, a liberdade fez-se notar de mil e uma maneiras. Nas salas de cinema foi dado relevo às exibição de filmes eróticos, e até pornográficos, proibidos durante a ditadura, que despertaram muita curiosidade, mas também algum pudor.

Foi para combater esses "tabus" sociais, que Romeu Correia e a esposa, Almerinda, fizeram questão de marcar presença numa das primeiras exibições de filmes para adultos no Cine-Incrível. Ou seja, apareceram em nome da Liberdade e nunca da libertinagem. 

Foi exactamente com esse sentido cívico - de alguém que tinha bastante peso socialmente em Almada, como escritor e dramaturgo -, que o Francisco nos contou esse episódio, acrescentando que esta atitude do casal fez com que aumentasse ainda mais a consideração e estima que tinha pelo Romeu e pela Almerinda Correia.

(Fotografia do Arquivo da Incrível Almadense)